Esse artigo foi publicado originalmento no QI 146 (do Edgard Guimarães) - pra mim uma honra pois faço parte desse mundo de pesquisa em quadrinhos faz apenas 1 ano... Vamos a ele:
Levando em consideração que uma das características desse tipo de herói é a vida na selva, a primeira imagem que me vem a memória é a da Lupa Capitolina amamentando Romulus e Remus:
Pesquisando
no blog do
(Quadripop) a gente se
depara com Saturnin, um herói que foi criado por macacos e vive uma
aventura rocambolesca ao redor do mundo. No decorrer da história
vários personagens de Jules Verne cruzam o caminho do herói.
Trata-se de um romance ilustrado, escrito por Alber Robida, com 808
páginas (no link você verá 819 páginas devido às páginas
adicionais de créditos da digitalização
) e 450 desenhos do
próprio autor.
O
livro é de
1879/1880. É
tarzanide mas não é quadrinho.
Ainda segundo Quim/Quiof a obra só foi quadrinizada
entre 1938 e 1940.
Em
1886 nos deparamos com esse quase tarzanide – o Zé Caipora,
de Angelo Agostini. A epopéia em quadrinhos começa em 1883, mais
precisamente em 27 de janeiro. Mas só em 1886, à partir do
capítulo 13 (de outubro), o Zé se embrenha na selva.
(...)
Zé Caipora é quadrinho mas não é tarzanide, pra isso lhe falta a
comunicação com animais etc. Está repleto de ação, às vezes
uma ação meio atrapalhada como esta do capítulo 15 (de dezembro de
1886):
(...)
Seguindo
adiante encontramos o Mowgli, publicado em 1895 por Rudyard
Kipling:
Mowgli,
a exemplo de Saturnin, também não é História em Quadrinhos.
1905
(bem antes de Francis Lacassin cunhar o termo) parece ter sido o ano
da publicação do primeiro tarzanide das Histórias em
Quadrinhos/Banda Desenhada. A história saiu na revista La Jeunesse
Illustrée nº 126 de 23 de julho de 1905.
Esta
revista francesa com toda certeza foi uma das fontes de O Tico-Tico
que republicava as HQs de Benjamim Rabier, Mauryce Motet e Th. Barn
(muitas até sem a assinatura do autor).
Valvérane
parece ser mais conhecido
pelos quadros que pintou do que pelas HQs –
que não são poucas. E sem mais delongas, aqui vai a história de
Simian I – Rei dos Orangotangos:
Simian
(um trocadilho em francês para símio) foi discriminado desde jovem
pela sua aparência mas não ligava pra isso. Com o tempo tornou-se
um bom marinheiro e proprietário do navio Garlaban.
Certa feita,
quando estava tirando uma soneca (sesta) foi lançado ao mar por dois
tripulantes. Conseguiu se salvar por ser um bom nadador, desmaiou de
cansaço na beira da praia e ao recobrar os sentidos se viu em meio a
orangotangos.
Manteve contato por meio de gestos com o maior deles,
foi encaminhado à vila dos orangotangos. Lá Simian preparou uma
lareira (ele trazia uma caixa de fósforos no bolso) e talvez por
isso – essa “mágica” que lembra um pouco Anhanguera – foi
tido pelos primatas como um líder e se autodenominou “Simian I”.
Então ele começa a treinar seus súditos para que eles lutassem e
navegassem (em um “simulador de navio”).
Alguns
anos se passam e Simian observa dois humanos conversando em um
descampando próximo às árvores, reconhece os dois como sendo os
mesmos que tentaram matá-lo e descobre que eles se tramavam um
ataque a Bornéo; volta à vila e convoca os orangotangos para
aprisionarem os corsários (piratas).
É recebido pelos habitantes
de Bornéo com muito entusiasmo, o próprio Governador faz questão
de o parabenizar e o nomear capitão de várias embarções da
colõnia.
Simian
depois de tudo isso continua a visitar seus súditos com certa
frequência.
(...)
*atualizado em 19 de outubro de 2017 para linkar um post sobre tarzanide, do Quim (que nos comentários trouxe um link muito bom de "Le Journal Amusant".
*atualizado em 22 de maio de 2018 para incluir o nome completo do Valvérane.