Mais uma vez o grande artista Sisson passa por nosso blogue.
Em 2017 postei a HQ "
O Namoro, Quadros ao Vivo" (elogiada até por Carlos Drummond de Andrade, segundo Herman Lima em seu 'catatau' "A História da Caricatura no Brasil" de 1963).
A data da publicação, na capa da #8 de O Brasil Illstrado, é uma segunda-feira 15 de outubro de 1855.
À época já suspeitava do título, que a maioria concorda que seja "O Namoro, Quadros ao Vivo - Por S..... o Cio" - este 'cio' no pseudônimo seria compreensível em se tratando de um namoro, as ganas amorosa etc. Não vou aqui me ater ao termo "quadros ao vivo" que era um termo teatral usado, pelo menos, desde 1852 para indicar alguma parte da peça (ou ela toda) onde os atores faziam, digamos assim, papel de estátua representando quadros históricos/representativos. Nem tampouco vou me alongar debatendo se esse termo era ou não usado especificamente para nomear uma História em Quadrinhos (como a maioria sói usar hoje em dia), mesmo porque o Sisson não mais usou esse termo em seus outros trabalhos, que não foram poucos.
Bom, voltando ao 'cio', lendo o Herman vi que ele grafou (ou seria a editora?) não 'Cio' mas 'Cie.' - abreviação para 'compagnie' que é 'companhia' em francês. É sabido que Sisson conhecia o idioma francês, portanto o pseudônimo seria "S..... e Cie." (com letra 'e' ao invés de 'o', o que não é impossível pois se você olhar bem para o 'o' de "Por..." e o suposto 'o' de "...o Ci.." verá que o primeiro tem uma base mais larga que o segundo o que leva a crer que o segundo 'o' é na verdade um 'e' com a impressão mais branda onde a reentrância não aparece por completo. Veja na foto como Herman publicou no livro (
levando em consideração que em 1963 a edição de O Brasil Illustrado estaria bem mais legível que hoje em dia):
Concluindo parcialmente, o que quero dizer é que como todo Artista modesto Sisson criou esse pseudônimo como sendo eles (ele mais um alterego, já que o forte dele eram as belas litografias exaltadas até por Machado de Assis). Em L'Iride Italiana a assinatura é bem nítida e não há dúvida alguma que o final é "... e Cie". Sisson & Cia., como se diria hoje. Voltando um pouco no tempo temos Töpffer que se esquivava de publicar suas HQs pois sentia vergonha da possível má interpretação da sociedade por ele ser um professor "respeitado". Ao fim e ao cabo os pseudônimos são para isso mesmo, para 'proteger' o artista.
Por que disse concluindo parcialmente? Porque a data de 15 de outubro de 1855 para esta nossa primeira HQ já é pública e notória, e está escrita na capa da edição #8. Mas...
Tudo tem um mas na vida!
O jornal "Diário do Rio de Janeiro" de 27 de fevereiro de 1856, na sua edição #58 (quarta-feira, página 3 - link no rodapé da figura) trouxe a seguinte notícia:
Ou seja, a famosa edição #8 de 15 de outubro de 1855 só veio à lume em fevereiro de 1856! A explicação está clara, a revista havia sido interrompida e estava retornado à praça. Por isso nossa curiosidade em saber porque o pessoal da BN havia colocado a pasta com essa revista dentro do ano de 1856 (figura abaixo, no link você pode verificar que a edição #9 é de março de 1856, seguindo a sequência lógica):
Concluindo, o dia exato (ao que tudo indica) em que o público conheceu a famosa HQ de Sisson foi 22 de fevereiro de 1856, uma sexta-feira, como saiu noticiado no "Correio Mercantil" edição #52 página 3 (link no rodapé):
E como estamos aqui pra perguntar, e se a sátira ao maestro Barbieri (publicada em L'Iride Italiana em 19 de outubro de 1855 - link no primeiro parágrafo) for considerada uma HQ?