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O ensaio de David Kunzle foi publicado na primavera de 2003 pelo Internacional Journal of Comic Art (são publicações semestrais, uma na primavera outra no outono), ao todo foram oito páginas de resenha - da página 377 até a página 384 do volume 5.1 onde o 1 trata do semestre da publicação.
Em conversas via e-mail com Athos Cardoso tive o prazer de receber, em 25 de novembro de 2016, este ensaio traduzido por Ricardo (filho de Athos):
Crítica de David Kunzle
A
origem da história em quadrinhos no Brasil deve ser totalmente
desconhecida dos cognoscenti (apreciadores) e, este livro,
escrito em português, teme-se que tenha pouca distribuição fora do
Brasil e da península Ibérica. Isto é uma pena porque suas
descobertas propiciam uma abordagem para o
tema em uma perspectiva nunca vista antes, e o livro,
finamente elaborado (com a inovação de miniaturas das tiras no
tamanho de selos, no fundo da página) merece uma tradução das doze
páginas de uma relevante introdução bem como das legendas dos
desenhos. Em sua publicação o livro recebeu grande repercussão na
mídia brasileira com artigos de pagina inteira e meia pagina nos
principais jornais do Rio de Janeiro, São Paulo, Recife e Maceió.
A
descoberta de Zé Caipora derruba a suposição de que o
desenvolvimento de quadrinhos de aventuras exóticas (Tarzan em
diante) é uma invenção americana do século XX. Este livro,
publicado pelo senado, lançado e editado por um professor de
comunicação de massa no Brasil que é também coronel aposentado do
Exército Brasileiro nos presta um imenso serviço, comparável de
certo modo ao de Antonio Martin, o pioneiro no estudo dos quadrinhos
espanhóis O tesouro que Eichler Cardoso encontrou faz nos
imaginar se não há outros a serem descobertos em publicações de
outros países da América Latina.
O
gênero “histórias de aventuras” (ou melhor, “histórias
de aventuras exóticas” já que na verdade, muitas das
primeiras histórias em quadrinhos são mini histórias de aventuras)
esta aqui completamente definido, e sou tentado a dizer,
amadurecido em sua origem em no mínimo quatro aspectos: variedade de
aventura, ambientes exóticos, extensão e seriedade (sem
caricaturas) de tom e estilo. Pode-se adicionar um quinto aspecto que
é essencialmente a novela em vez da história em quadrinhos, isto é
relativa coerência e consenso de
enredo. Quanto ao tamanho, em meu livro
History of the 19th Century Comic Strip, Arrisquei que o
recorde europeu foi de dois quadrinhos espanhóis: Mecácis “Wedding
Day” (cerca de 306 desenhos espalhados por 17 pastas,1885),
seguido por “Extraordinary Voyages” de Cilla ( 241
desenhos, 1888-89). Zé Caipora de Angelo Agostini não só é
anterior a esses dois como os supera quantitativamente: 378 desenhos
publicados entre 1883 e 1886. Entre 1901, quando foi publicada uma
terceira edição, e 1906 mais 518 desenhos divididos em 75 capítulos
foram criados. Isto é incrível e sua originalidade parece ter
escapado até agora da história básica da caricatura brasileira. A
História da Caricatura no Brasil (1963, 4v) de Herman Lima menciona
Zé Caipora de passagem, sem reproduzir um único desenho seu.
Periódicos
em jornais humorísticos tendiam a favorecer breves anedotas ou
piadas extensas ocupando páginas inteiras e até pequenas novelas,
no estilo de Maupassant, imprimiram-se dois ou três volumes, não
necessariamente sucessivos. Por volta do ano de 1886 Agostini não só
aumentou em tamanho os periódicos de sucesso publicados por
Mechacis, mas também qualquer história ilustrada publicada até o
momento em forma de álbum, que favorecia tamanhos maiores do que os
periódicos (jornais), e sempre foi assim desde Topffer, cujas
maiores histórias trazem entre 200 e 220 desenhos. O mais longo de
Wilhelm buch, a trilogia The Knopp (1875 – 77) possui 208 desenhos.
Angelo
Agostini nasceu em 1843 e passou a infância em Piemont, veio jovem
para o Brasil, trabalhou na estrada de ferro e fundou diversos
jornais em São Paulo e Rio. Faleceu em 1910. Seu papel como fundador
da história em quadrinhos brasileira é reconhecido pelo troféu
Ângelo Agostini dado pela Associação dos Quadrinhistas e
Caricaturistas do Estado de São Paulo, e o dia
30 de Janeiro
foi
escolhido o Dia do Quadrinho Nacional, pois, nesta data em 1869,
Angelo Agostini publicou aquela que é tida como a primeira história
em
quadrinhos
do
Brasil. É correto afirmar que ele sabia alguma coisa da língua e da
tradição francesa dos quadrinhos e caricatura. (seu italiano tinha
pouco a oferecer no Séc XIX.). A cultura Francesa era a dominante em
toda a América Latina. O estilo de Agostini aproxima-se, talvez ao
de Cham em seu auge,
ainda que o artista ítalo brasileiro mostre ser influenciado por
Topffer (Zé Caipora usando posturas elegantes, Jabot, pag 65) nas
tendências cômico suicidas de seu herói e, acho, em inspirações
generalizadas.
Para
sustentar a afirmação que os quadrinhos de Agostine são os
primeiros de aventuras exóticas bem como a inovação de sua
abordagem, vale rever brevemente alguns antecedentes. Cryptogame de
Topffer (primeiro desenho de 1830, publicado em 1845) leva o herói
de Geneva ao
estrangeiro
a bordo de um baleeiro norueguês e no estomago de uma baleia, do
Ártico até a Argélia, chegando finalmente a França. Viagens
cômicas viraram especialidades dos seguidores de Topffer na França,
Cham, na metade do século, quando as estradas de ferro e as atrações
turísticas levaram as pessoas a viajar mais longe e em maior número
como nunca antes. Cham, naturalmente é consistentemente cômico,
como Agostini, após os 11 capítulos iniciais de Zé caipora não é,
uma diferença essencial, e as ambições globais dos heróis de Cham
(que ele gosta de apresentar como autobiografia) talvez reflitam as
ambições globais de uma burguesia se enriquecendo em aventuras
imperialistas, o Brasil com o olhar para o exterior e se
industrializando em 1880 como a França o fez em 1840. O domínio de
Agostini é menor e restrito a cidade grande e a regiões indefinidas
do interior brasileiro, mais concentrado e focado, sem limites no
humor ou mudança nacional e geográfica.
A
busca de Agostini foi certamente elevar o nível da novela, um gênero
que nunca buscou tal ampliação e geralmente desprezado pelos
críticos, as histórias em quadrinhos no sec XX ultrapassaram a
novela em popularidade, mas no sec XIX ainda procuravam se
equilibrar, por muitas gerações foi incapaz de firmar se como obra
de arte para competir com a novela. Pode-se notar, no entanto certa
ambição em direção a uma pretensão de Cham de uma novela
completa de 121 “capítulos” cada um com seu próprio epigrafo e
em títulos grandiosos remanescentes do barão Munchausen, cujas
aventuras extraordinárias e extremamente populares publicadas por
toda a Europa quiseram ser transformadas em histórias em quadrinhos,
mas nunca foram além de uma ilustração convencional.
Agostini,
procurando por credibilidade, empenhou-se contra a tradição de
absurdos das histórias mirabolantes de Munchausen das quais Cham
participa com seu Travel
Impressions of M.Boniface , ex deserter of the 4th,5th e 10th. His
Excursions on Earth, His Head and Nose
etc.(1844) leva o leitor para a Inglaterra e Irlanda para satirizar
os costumes locais, no seu
Journey from Paris to America Pursued to Le Havre Inclusive
(1844 -45) conta sobre o sofrimento das viagens em carruagens e
ferrovias, na sua Lithografic
Impressions of a Jorney by M. Trottman and Cham
(uma duradoura série de episódios em mais de 20 volumes do
Charivari
entre novembro e dezembro de 1846) com sua continuação Nouvaux
Voyages
focado nas tolices dos estereótipos nacionais de vários países
Europeus incluindo Turquia e Russia. Seu conto Voyages d’Agrément
1849 que se passa na Argélia (recentemente colonizada pelos
franceses) é uma sátira ao turismo. Durante o período das
revoluções de 1848 e especialmente em seu conto Jouney
Round the World of Captain Cham and His Umbrella (1852).
A sátira de Cham se torna uma paranoia política com falsas prisões
e estadia na cadeia, lugar comum em todas as suas histórias, e uma
característica das histórias do séc XIX presente em ambas as
histórias de Nho Quim e especialmente Zé Caipora. Próximos deste
tema estão os Episodes
From the History of a Savage Nation; or the Beneficts of Civilization
(1846) de Cham, onde o homem branco encontra o índio pele vermelha,
contudo, diferentemente de Agostini Cham esta inteiramente
comprometido em transformar o encontro no qual os índios são
corrompidos pela “civilização” em uma sátira da vida politico
e social francesa, enquanto Agostini concebe o aterrorizante encontro
de Caipora com os índios brasileiros parcialmente como uma
demonstração do seu heroísmo e, parcialmente como uma antítese
moral entre a civilização e a barbárie. O heroísmo de Zé
caipora, sobrevivendo e lutando contra índios e onças é real,
idealiza, na idade de ouro do imperialismo europeu do qual a visão
de Cham é a
de
um explorador descrente, a luta generalizada Euro Americana contra o
“selvagem”. O The
Labors of Hercules
(1847) de outro imitador de Topffer, o jovem Gustave Doré, pode ser
visto dentro deste contexto não somente como uma paródia da
mitologia antiga, mas também como um desprezo das aspirações do
tipo de heroísmo que Agostini leva tão a sério. Ele tem que
resistir a uma tradição que era virtualmente um reflexo instintivo
na caricatura, evidente em “Sloper
in Savage Afica”
(1872) de Marie Duval até “Colonization
Epidemic”(1886)
de Albert Robida e “Let’s
Civilize Africa”
(1893) de Camilef, todos (e muito mais) ridicularizam o homem branco
na África.
Talvez
seja estranho que a Bretanha, a principal nação imperialista não
produziu histórias de aventuras exóticas além da série
satirizando o barbarismo de Scott (MacNab
of that Ilk)
e a tentativa rara em um enredo crucial que tem muito a ver com
Agostini: O salvamento do homem branco pela heroína mulher indígena,
o qual serviu como um paliativo para o estereotipo da crueldade
indígena.
”“Mr
Touchango Jones”
(Man in the Moon,
1848) de Albert Smith e H.G. Hine, é impulsionado para a costa de
Quashybungo supostamente por problemas com a esposa em casa (não
muito diferente de Cryptogame),
mas nesta bem politizada história obviamente com referencia a pesada
repressão europeia originada pela imigração na época. Depois de o
herói ser salvo de um leão faminto por seu guarda chuva, que ele
recuperou de um macaco, somos deixados em suspense pendurados no
abismo, emprestado das novelas seriadas como mostrado conscientemente
por uma nota conclusiva: “com tal fuga providencial o deixamos
pendurado pela cauda do macaco por trinta dias” Como Caipora, Jonas
é salvo da morte certa (cozido em um caldeirão) por uma rainha
local que por ele se apaixona. Ele então passa pelas aventuras de
Topfferian com uma baleia e um balão. A antítese do homem branco
selvagem expande uma oposição cidade campo presente na cultura
europeia por séculos, e a transição dos trabalhos iniciais de Nhô
Quim de Agostini e a primeira parte de Zé Caipora com sua comédia
inteiramente urbana, para a exótica selva brasileira que é o
cenário principal de Zé Caipora recaptura a mudança da caricatura
e das histórias em quadrinhos da cidade para o interior. Este “
Choque Cultural” é a essência da longa série de história
cômicas “Histoires
Campagnards”
de Parisian Leonce Petit publicadas no Journal
Amusant,
durante a década antecedente a Zé Caipora.
A
referência mais próxima, em termos de estórias de aventuras
exóticas deve ser a do trabalho Espanhol mencionado acima “Viajes
Extraordinários de Ramón Cilla”,
publicado pelo Madrid
Cómico
1888-89, não muito depois da primeira fornada de Zé Caipora e
possivelmente inspirado nela. Uma comparação detalhada não pode
ser feita aqui, é suficiente dizer que ainda que aborde temas
similares: selva, animais perigosos e nativos (Cilla,
African Negroes)
o tratamento é totalmente mais sereno e com um estilo
verdadeiramente caricatural, como não é Agostini.
Eichler
Cardoso, em sua curta introdução, não está interessado com tais
antecedentes gráficos, nem com o contexto político da luta para
acabar com a escravidão no Brasil, na qual Agostini estava
amplamente engajado ou a expansão para o oeste selvagem, onde em
todas as histórias aparecem a questão das experiências reais de
submissão do nativo selvagem. Tais contextos pareceriam para mim
essenciais para uma melhor compreensão da obra no que diz também em
uma tradição literária que poderia ter sido descrita (o
autor me envia um e mail informando que Agostini admirava Atala, a
obra de Chateaubriand, provavelmente a edição ilustrada por Dore do
qual há ilustrações semelhantes em Agostini, e teria achado o tema
da princesa índia salvando o herói no famoso romance Iracema de
José de Alencar) Eichler
Cardoso esta, sobretudo interessado nas circunstancias mais imediatas
de conteúdo e publicação das próprias histórias, que
necessitavam de reconstrução de páginas danificadas.
Quanto
as histórias, voltamos para um breve resumo. Nas Aventuras de Nhô
Quim e as Impressões de uma Viajem a Corte. Publicada mensalmente no
jornal semanal Vida Fluminense entre 30 de janeiro de 1869 e 8 de
janeiro de 1870, os primeiros nove capítulos são de Agostini os
cinco restantes, no mesmo estilo, são de Candido de Faria, com um
término inconclusivo, obviamente não esperado. Há pequenas
legendas descritivas (as de Zé Caipora são maiores) escritas a mão
no original, mas reproduzidas tipograficamente nesta cópia, como nas
ultimas edições de Caipora. A escrita a mão das legendas era
mandatório pelo fato de os desenhos serem litografados, uma técnica
que não permite o uso da tipografia (a tradição europeia era usar
a xilografia (gravação em madeira para as ilustrações, um bloco
de madeira por vinheta, o que não permitia uma composição
tipográfica)
Nho
Quim (abreviação de Senhor Joaquim) é o herdeiro de 20 anos de uma
rica família rural que parte em busca da sorte na cidade grande.
Após alguns típicos incidentes na viajem de trem, ele passa por
vários contratempos nas ruas apinhadas da cidade, que levam a sua
detenção e prisão. Acidentes de trânsito, lutas e dano a
propriedade compõem a maior parte do início da história que em
algum momento torna-se repetitiva em uma excessiva acumulação
Topferiana. O desfile a esmo de acidentes e ocorrências absurdas, um
lugar comum nos histórias em quadrinhos do séc 19 encaixa em temas
familiares: Os sofrimentos do inocente no estrangeiro, o caipira na
cidade perigosa e hostil que prontamente se envolve em uma série de
tipos e situações sociais. A tentação sexual solidificando se na
farsa, sempre na cama errada, uma insinuação de sedução, e o
roubo total e virtual (sombras da antiga iconografia dos séculos 16
e 17 do filho pródigo), é básico do quadrinho cômico em várias
mídias. O travestismo de Topfferian está aqui destacado no absurdo
do herói efetivamente ser proposto no que seria seu traje sedutor,
alguns preferem o estilo picante, por um pretendente idoso (um
inglês). O herói repetidamente vai para a prisão onde é deixado
quando a história é suspensa. Tecnicamente há pouca coisa nova:
Uma série de média perspectiva, monótona para os nossos olhares e
lenta para os padrões europeus, uma vez atenuados pela visão de
perto da face atônita do herói, e a inclusão de um grande retrato
que deve ser de um amigo ou um profissional conhecido do artista.
Os
movimentos lentos, ou redução do tempo de rastreio do movimento,
talvez influenciado por Wilhelm Bush cujo trabalho surgiu em uma
edição espanhola em 1881 é elevado nas Aventuras de Zé Caipora
publicada primeiro em folha dupla na Revista Ilustrada (23 capitulos
1883-1886), e culminando em um álbum, como era costume, no fim
daquele período. Este magazine é citado por Cardoso como sendo de
grande circulação, 4000 assinantes, o que é pouco para os padrões
europeus. Em 1901 uma “terceira edição” foi publicada em Dom
Quixote adicionando 11 novos “capítulos” sendo redesenhados com
modificações dos anteriores e usando legendas tipográficas. Em
1905 -06, 40 capítulos novos foram publicados, na revista O Malho
elevando o total para 75. Simultaneamente, uma quarta edição dos 35
primeiros capítulos foi publicada na forma de álbum. Na década
posterior a 1906 a criação de Agostini foi transformada em quatro
peças, dois filmes mudos, e canções populares. Zé virou um herói
nacional, um mito. Tudo isso antes de Tarzan aparecer nas histórias
em quadrinhos em 1928/29.
Treze
anos depois, Zé Caipora encontra-se passando ridículo na selva
urbana, é como se Jim simplesmente se transformasse em Joe, ambos
moços de família emergentes que inicialmente assumem posturas como
um romance aristocrático interrompido por um acidente na mesa de
jantar. Ele é preso (as manchas de vinho nas roupas são confundidas
por sangue), luta com a polícia, foge, causa mais acidentes
ridículos, sua prisão em um tambor de carnaval é um reminiscente
da fixação de Abbe a sua viga em Topffer Cryptogame. Os médicos
briguentos que cuidam de seus ferimentos o abandonam quando descobrem
que ele não tem nenhum dinheiro, recusado por sua dama amada, Zé
pega um navio e sucessivamente tenta, imagina e finge suicídio (tudo
remanescente dos heróis de Topffer) trazido para sua amada em um
estado deplorável de afogado, ele compromete novamente quando um
muco horroroso escorre do seu nariz, isto em um episódio prolongado
com seis desenhos, impensável na ilustração europeia da época. Há
mais problemas no quarto de uma criada negra, com a polícia e como
suspeito de um roubo e todo o tipo de fugas e perseguições. Zé
volta para a prisão (ou quase) antes da humilhação final ao ser
visto em público com terríveis pústulas.
Este
é um momento de transição (cap 12) onde o herói (e o autor)
decidem que chegou o momento de dizer basta. Zé parte para o
interior em uma mula ao encontro de um amigo por uma trilha cheia de
perigos escondidos, onde é sucessivamente atacado por cobras,
porcos, macacos e finalmente por uma onça. O encontro com esta
elegante e temível criatura simbólica ocupa, como nos quadrinhos de
Tarzan, um tratamento mais extensivo, não menos do que quinze
desenhos, mas a maneira que o herói encontra para mata-lo é
vergonhosa e inacreditável. Capturado pelos índios, salvo de uma
morte horrível por Inaiá, a linda filha do cacique, solidária
porque antes já havia sido capturada pelos brancos. Os dois são
perseguidos e deixam os inimigos mortos aos montes. Novas aventuras
incluem uma caverna, de onde escapam usando cordas, um tatu (que eles
comem), lutas em pontes e ravinas, muitos afogamentos de índios, e o
salvamento de Inaiá da morte por um triz. Após a construção de
abrigos no estilo de Robson Crusoé, os amantes são mostrados
dormindo lado a lado e Inaiá, sempre virtuosa bem como corajosa,
reza pela alma de seu pai que queria mata-la. Toda a sequencia
termina em 1886 em uma espécie de suspense literal: O noivo índio
de Inaiá em uma elevação, observando vingativamente a fumaça
proveniente do abrigo dos fugitivos abaixo.
Reassumindo
ininterruptamente 15 anos depois em 1901, Agostini tem o noivo índio
de Inaiá Cham Kham encontrando sua prometida, porém é salvo de uma
cobra gigante por ela e Zé, depois de ter seus ferimentos cuidados e
ter sido alimentado reconcilia com seus antigos inimigos. Há muita
caça de animais exóticos, destacadamente pássaros Jacus, uma paca
e um enorme tamanduá que agarra o herói em um efeito cômico
acidental, como um tapete antropofágico. Tudo isso é cinégica,
isto é, (como o glossário de Cardoso explica) relativo a caça, mas
na mesma página há um conceito “cinegenetico” o passado, toda a
vida de Caipora volta para ele num momento de depressão em uma nuvem
de vinhetas. Inaiá, capturada por uma tribo inimiga, é mais uma vez
salva e seu aliado índio Cham Kam, com muitas mortes de índios e
batalhas regulares onde os brancos são sempre superados em número.
A
história reaparece em 1905, no capítulo 38, trocando a litografia
pelo estilo pena e tinta na reprodução fotográfica. Há outra
batalha mortal com uma onça e depois de muitos capítulos e outro
suspense em encosta, a cena volta para a cidade onde a namorada de Zé
espera ansiosamente seu retorno. Uma equipe de busca é enviada,
Inaiá é salva de novo e de novo, agora como antes mostrando a nudez
da parte superior do corpo, com amplos seios o que jamais seria
permitido para uma mulher branca. Uma vez na cidade, naturalmente,
ela e Cham Kam tem de usar roupas decentes apropriadas ao deu novo
papel como seus serventes, eles desaparecem quando Zé se envolve em
novas aventuras. No fim ele é preso (seria esta a intenção?)
acusado de um “grande crime”. A qualidade do desenho em uma parte
da reprodução (seria de uma página original muito danificada?)
deteriora tão acentuadamente nos últimos capítulos que se imagina
se Agostini teve algo a ver com isto.
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