15 outubro 2017

Qual o primeiro tarzanide dos Quadrinhos?

Esse artigo foi publicado originalmento no QI 146 (do Edgard Guimarães) - pra mim uma honra pois faço parte desse mundo de pesquisa em quadrinhos faz apenas 1 ano...  Vamos a ele:

Levando em consideração que uma das características desse tipo de herói é a vida na selva, a primeira imagem que me vem a memória é a da Lupa Capitolina amamentando Romulus e Remus:

Wikipédia


Pesquisando no blog do (Quadripop) a gente se depara com Saturnin, um herói que foi criado por macacos e vive uma aventura rocambolesca ao redor do mundo. No decorrer da história vários personagens de Jules Verne cruzam o caminho do herói.

Trata-se de um romance ilustrado, escrito por Alber Robida, com 808 páginas (no link você verá 819 páginas devido às páginas adicionais de créditos da digitalização) e 450 desenhos do próprio autor.
Biblioteca Nacional da França
 
O livro é de 1879/1880. É tarzanide mas não é quadrinho. Ainda segundo Quim/Quiof a obra só foi quadrinizada entre 1938 e 1940.

Em 1886 nos deparamos com esse quase tarzanide – o Zé Caipora, de Angelo Agostini. A epopéia em quadrinhos começa em 1883, mais precisamente em 27 de janeiro. Mas só em 1886, à partir do capítulo 13 (de outubro), o Zé se embrenha na selva.

(...)

Zé Caipora é quadrinho mas não é tarzanide, pra isso lhe falta a comunicação com animais etc. Está repleto de ação, às vezes uma ação meio atrapalhada como esta do capítulo 15 (de dezembro de 1886):

 
 (...)

Seguindo adiante encontramos o Mowgli, publicado em 1895 por Rudyard Kipling:

Archive - arte de W. H. Drake
 Mowgli, a exemplo de Saturnin, também não é História em Quadrinhos.

1905 (bem antes de Francis Lacassin cunhar o termo) parece ter sido o ano da publicação do primeiro tarzanide das Histórias em Quadrinhos/Banda Desenhada. A história saiu na revista La Jeunesse Illustrée nº 126 de 23 de julho de 1905.
Esta revista francesa com toda certeza foi uma das fontes de O Tico-Tico que republicava as HQs de Benjamim Rabier, Mauryce Motet e Th. Barn (muitas até sem a assinatura do autor).
La Jeunesse Illustrée contava com nomes como Baker (que fazia uma imitação do estilo de HQ do grande Gustave Verbeek) e também com HQs adultas de drama, ação, mistério, terror, ficção científica e de cunho fantástico de Georges Omry, Kotek, Marius Monnier, e principalmente de Louis Denis-Valvérane (1870-1943).
O nome completo do cara é Louis Jean-Marie Denis Valvérane ou Louis Joseph Marie Denis-Valvérane.
Valvérane parece ser mais conhecido pelos quadros que pintou do que pelas HQs – que não são poucas. E sem mais delongas, aqui vai a história de Simian I – Rei dos Orangotangos:

La Jeunesse Illustrée

Simian (um trocadilho em francês para símio) foi discriminado desde jovem pela sua aparência mas não ligava pra isso. Com o tempo tornou-se um bom marinheiro e proprietário do navio Garlaban.

Certa feita, quando estava tirando uma soneca (sesta) foi lançado ao mar por dois tripulantes. Conseguiu se salvar por ser um bom nadador, desmaiou de cansaço na beira da praia e ao recobrar os sentidos se viu em meio a orangotangos.

Manteve contato por meio de gestos com o maior deles, foi encaminhado à vila dos orangotangos. Lá Simian preparou uma lareira (ele trazia uma caixa de fósforos no bolso) e talvez por isso – essa “mágica” que lembra um pouco Anhanguera – foi tido pelos primatas como um líder e se autodenominou “Simian I”. Então ele começa a treinar seus súditos para que eles lutassem e navegassem (em um “simulador de navio”).
Alguns anos se passam e Simian observa dois humanos conversando em um descampando próximo às árvores, reconhece os dois como sendo os mesmos que tentaram matá-lo e descobre que eles se tramavam um ataque a Bornéo; volta à vila e convoca os orangotangos para aprisionarem os corsários (piratas).

É recebido pelos habitantes de Bornéo com muito entusiasmo, o próprio Governador faz questão de o parabenizar e o nomear capitão de várias embarções da colõnia.
Simian depois de tudo isso continua a visitar seus súditos com certa frequência.
(...)

*atualizado em 19 de outubro de 2017 para linkar um post sobre tarzanide, do Quim (que nos comentários trouxe um link muito bom de "Le Journal Amusant". 
*atualizado em 22 de maio de 2018 para incluir o nome completo do Valvérane.

3 comentários:

Quiof disse...

Já que você publicou o artigo, vou comentar o e-mail que mandei ao Edgard:
O site Erbzine lista diversos proto-Tarzans no index chamado "The Ape-Man: his Kith and
Kin" levantado por Georges Dodds, embora não seja citada, até mesmo
Rima é anterior ao homem-macaco, surgiu no romance Green Mansions
(Verdes Moradas no Brasil) de William Henry Hudson, publicado em
1904.


http://www.erbzine.com/mag18/indexape.htm



Uma outra influência notável no trabalho de Burroughs é Henry Rider
Haggard, autor de As minas do Rei Salomão de 1885 e She (Ela,
Feiticeira) de 1987, inclusive teve um crossover em She and Allan
(1921). Ayesha ou She antecede La de Opar e até a Rainha Samaris do
Fantasma.


Outro trabalho visto como proto-Tarzan é a HQ "Une aventure au Gabon"
de Gilbert Randon, onde um homem chamado Bugnalarose viaja a Africa e
convive com símios em árvores, no fim, tratava-se de um sonho, foi
publicado em três edições do Le Journal Amusant entre 1874 e 1875.

http://www.topfferiana.fr/2015/03/histoire-de-mr-verjus-par-randon/

Quiof disse...

Faltou você linkar o texto Tarzanides
http://quadripop.blogspot.com/2014/07/tarzanides.html

Gabriel Rocha disse...

Se busca um "tarzanoide" realmente antigo, vai encontrar em argila suméria! Enquidu, o homem selvagem. Parabéns pelo blog,
Abração,